"Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano que estamos, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente."


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

E quando minha preocupação não me faz bem?

Preocupação. Está ai uma coisa que nos acompanha desde pequenos. Nos preocupamos se vamos conseguir realizar uma tarefa, se vamos ser sucedidos , se vamos dar conta de algo... Enfim, podemos nos preocupar com várias coisas. Mas até quando a preocupação não se torna demais? Até quando ela ultrapassa o nível e nos torna preocupados crônicos?
Se procurarmos por uma definição de preocupação , acharemos conceitos ligados a ideia fixa e antecipada (interessante perguntar se pessoas ansiosas se preocupam mais ou pessoas preocupadas são mais ansiosas?) que produz sofrimento, além da ideia de responsabilidade , atenção e pensamento constante e dominante .
Quando estar preocupado passa a atingir várias áreas de nossa vida, limitando-nos
a ponto de limitar também o nosso prazer e satisfação, nos trazendo sofrimento diário e limitando nossa forma de ser no mundo,podemos ligar uma luz de alerta.  
Pessoas ansiosas costumam estar preocupadas grande parte do seu tempo. A preocupação não surge como algo natural, que brota , é refletida e deixada ir. A pessoa costuma se apegar a essa preocupação e leva-la para todos os lugares.
Pensamentos como não quero deixar escapar nada;se continuar pensando um pouco
mais, talvez consiga compreender; não quero ser pego de surpresa quero ser responsável, podem reforçar a ideia de que devemos estar sempre pensando nos problemas e acabam alimentando o ciclo de preocupações.

Preocupados crônicos se preocupam com situações grandes mas também se preocupam com situações cotidianas . Ao se preocuparem com quase tudo e terem sentimentos como ansiedade e medo, eles condicionam seus comportamentos de evitação e fuga e continuam reforçando essa forma de ser no mundo(vou explicar melhor mais pra frente). Uma pessoa que antes estava preocupada, por achar que essa é a ÚNICA forma de ser, se define como preocupado. Eu sou preocupado passa a ser a frase que o define ao invés de estou preocupado.
A preocupação , na verdade, é uma forma de se adaptar ao mundo em que essa pessoa vive, é uma forma de lidar com os problemas e evitar que algo pior aconteça. Entretanto, assim como tudo na vida, usar somente uma estratégia para tudo, de forma generalizada, se torna disfuncional.
Pessoas que estão constantemente preocupadas costumam ver o mundo de forma pessimista, veem o mundo pelas possibilidades de  fracasso, rejeição , perigo e acreditam que suas previsões estão sempre corretas. Por isso, eles ficam atentos a qualquer sinal de ameaça , às vezes, até mesmo interpretando um sinal como ameaçador sem antes verificar se ele realmente é.

Crenças muito comuns para preocupados crônicos são:
  • Acreditar que pensar muito sobre um problema ajuda a achar a solução.
  • Acreditar que o mundo é perigoso.
  • Acreditar que não consegue lidar com o mundo, nem com seus sentimentos e pensamentos.
  • Sente que se preocupar é ser responsável.

Uma coisa é certa, ao pensar demais em um problema, deixamos de sentir. Parece lógico, mas não percebemos que estamos pensando demais para evitar nossos sentimentos. A preocupação é uma forma de tentar deixar somente seu lado racional agir.

Logo, existe um ganho ao se estar preocupado e por isso a pessoa pode se manter nesse ciclo. Ao ficar se preocupando, a pessoa "não sente" sua ansiedade, ela guarda dentro de si. Logo, a ansiedade parece diminuir ao se preocupar. Quando ela para de se preocupar, a ansiedade parece voltar e ela volta a se preocupar para evitá-la. Contudo, ai está o cerne de tudo. Não é que a ansiedade volta, ela sempre esteve ali, porém como você não quer senti-la, você a suprime temporariamente.

Repare que pessoas que estão muito preocupadas encontram-se em estado de alerta, atentas a tudo. Isso já demonstra que a ansiedade está presente.

Outro ganho aparente que a pessoas preocupadas podem acreditar ganhar é o controle. Ao se preocupar, acredito que controlo minhas ansiedades, meus medos e controlo a situação.

Essa tentativa de controle acontece , principalmente, em consequência da  visão pessimista de mundo e das crenças negativas sobre as emoções. Ter medo das próprias sensações e sentimentos pode te fazer acreditar que não se pode ter, compreender ou sentir nada do que você sente. Além disso, sentir dois sentimentos ao mesmo tempo, por exemplo, pode te deixar confuso e justamente por fugir ao seu controle, você se preocupa.

No fim, a preocupação, que brotou como uma estratégia de adaptação à realidade, como um tentativa de se ter certeza sobre algo, pode te fazer sentir mais insegurança e mais incerteza sobre tudo. Em vez de você conseguir lidar com suas emoções , você as evita e pensa sobre elas mas não as sente. Concluindo : preocupar-se demais te prende em um ciclo constante de preocupação , produzindo mais problemas para resolver.

Como lidar com tudo isso? Aceite que você tem sentimentos, sinta-os, dialogue consigo mesmo para entender o que seus sentimentos querem lhe dizer. A partir dai, pense nas milhares de possibilidades que você pode ter, não pense somente como você costuma pensar (imagine que essa situação ocorre com outra pessoa e como ela poderia resolver isso). Aceite o que você pode fazer agora. Se preocupar não irá mudar a situação.

Tenha em mente que sofremos, principalmente, porque as coisas mudam. Mudança nos remete à incerteza, ao novo, a possibilidades.

Ao ter uma visão pessimista de mundo, acreditaremos que a mudança trará problemas que não conseguiremos lidar. Problemas irão surgir, isso é fato, mas como lidamos com eles e como os vemos, fazem muita diferença.  Podemos encarar o novo como algo assustador e nos reconfortar no que é conhecido. Mas nem sempre o que é conhecido nos faz bem. Podemos encarar o novo como uma possibilidade de ser diferente, aprender e crescer. Podemos aprender com os nossos sentimentos ou podemos suprimi-los porque é mais confortável no momento. Tudo são escolhas que fazemos , mas ainda sim, sempre podemos escolher diferente, sempre podemos mudar a nossa rota.

Várias informações foram tiradas do livro Como lidar com as preocupações: sete passos para impedir que elas te paralisem você de Robert L. Leahy, editora Artmed (2007).



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